sexta-feira, 12 de março de 2010

Nivaldo Cruz E A Lenda das Mangas de Jasmim





Hoje aqui no nosso "A Arte Do Meu Povo" , tem mais uma poesia popular, de minha autoria, tendo como tema as Lendas do nosso Brasil de Mãe Preta e Pai João, inspirada nas pesquisas do Grande Câmara Cascudo.
Boa Leitura!!!


A Lenda das Mangas de Jasmim
Nivaldo Cruz


Vado do Véi Pêdo nas
Suas viagem pelo Brasil
Encontrou muitos causos
E muitas coisas também viu,
Estranhas lendas e
Muitas histórias ouviu.

São estas lendas que
Aos de interesse conto
Deste lugar sem
Ganhar um réis de conto
Mas feliz por que
Sei que ganho até ponto.

Essa aqui q´ele me contou e
Eu conto pra vois micês
Cumeçou na Paraíba
Esse é o estado da Vêiz
No ano de 1631
Só num sei em qual meiz.

Naquele tempo a Paraíba
Capitânia ainda era
Cheia de Engenhos, escravos
E donzelas sempre a espera
De casamentos felizes e príncipes.
Viver um sonho quem dera!

Antonio Homem
Chamava assim seu nome
De Saldanha e Albuquerque
Esse era seu sobrenome.
Por Dona Sancha Coutinho
Se derramava o home.

A bela donzela
Cheia de dote e beleza
De João Paulo Vaz Coutinho
Era a filha da riqueza.
Esse abastado agricultor
Era de muita firmeza.

Dono e senhor do
Engenho Andirobeira
Distante uma légua
Da costa brasileira
Tinha sua filha de 15 anos
Como principal herdeira.

Antonio Homem depois
Que viu a linda donzela
Apaixonou-se e não
Queria viver sem ser dela,
Pois na sua vida nunca
Vira criatura tão bela.

Depressa a seus pais
Foi correndo pedir a mão
Da donzela tão linda
Que lhe roubou o coração.
Os pais da moça logo
Fizeram grande oposição.

Saldanha e Albuquerque
Ficou foi desiludido
Com aquela recusa e
De ter o seu amor perdido.
Alistou-se no exército
Pra morrer ou ser ferido.

E foi para a guerra
Em sua província natal
Onde os holandeses
Estava tomando afinal.
No campo de batalha
Queria combater todo mal.

O mal dos holandeses
Ou o pior mal, q’era o do amor
Que fazia ele sofrer
E sentir demais aquela dor,
Só queria matar, morrer
Destruir qualquer que for.

Com tanta sede
E rancor no seu coração
Esse valente virou
Um grande herói da nação
No forte de Cabedelo
Foi a sua perfeita ascensão

No ano de 1633
Pernambuco foi defender,
O arraial do Bom Jesus
Tinha ele que proteger
E na sua invasão
Veio o pobre a falecer.

Uma bala bem certeira
O pobre Antonio recebeu
Caiu ali morto num lugar
Que nem era bem mesmo seu
Mas defendendo o país
Ele lutou, deu a vida, morreu.

No tá ano de1646 como
Por milagre reaparece
Na província do Pernambuco
De padre rezando prece,
Antonio Homem,
Assustando quem conhece.

Com um hábito de Sacerdote
Sem nem parecer que morreu
Saldanha e Albuquerque
Veio e do nada apareceu.
Padre Aires Ivo Corrêa
Foi esse o nome que ele deu.

Dr. José Soares de Azevedo
Esse poeta escreveu
Em versos bem bonitos como
A chegada se assucedeu
E peço permissão pra lhe
Mostrar como descreveu.

“São treze anos passados,
E de Jesus ao mosteiro
Chega a Olinda em pobres trajes
Um Sacerdote estrangeiro.

Traz o rosto macerado,
Que a dor o espr´ito lhe rende;
Nos olhos se lhe apagaram
As paixões que o mundo acende.

Em anéis d´oiro os cabelos
Pelos ombros se declinam;
Palavras qu´esse anjo solta
Só perdão e amor ensinam.”

O padre Aires pouco
Tempo depois partiu
Pra Ilha de Itamaracá,
Em sua missão tão serviu
Da palavra de Deus
Levar a estes cantos mil.

Dona Sancha Coutinho
Nesse tempo ali estava
Chorando a falta dos pais
Que a morte a enlutava.
Com o seu irmão
Nuno Coutinho morava.

Quando ela soube
Do padre a tal chegada,
Pediu ao irmão para
Levá-lo em sua morada
Talvez a sua benção
Lhe deixasse sossegada.

E foi lá que aconteceu
Quando a pobre moça viu
A face do sacerdote,
Nada mais conseguiu
Falar ou fazer com o choque
E a morte assim lhe atingiu.

Aqui trago outro
Verso tão bem escrito
Pelo poeta Zé Soares
Que descreveu bonito
O que aconteceu naquele
Ambiente restrito.

“Quis ser ela a derradeira
Em ver o santo varão,
Mas põe-lhes os olhos no rosto
‘Ai, meus Deus!’e cai no chão.”

Reconhecendo no padre
Seu desventurado amante
Dona Sancha não agüentou
A emoção do instante
E a Virgem Maria deu
Sua alma flamejante.

No sepulcro de Dona Sancha
Então o padre Aires plantou
Um pé de manga
De onde foi que brotou
A fruta manga Jasmim
Com todo seu esplendor.

Seu aroma bem gostoso
E seu delicado sabor
Vem do resultado
De um verdadeiro amor.
Essa lenda eu conto
Para todos com ardor.

Assim lhe peço atenção
E pro mode finalizar
Do poeta Dr. Azevedo
Outros versos vou pegar
Para chamar vois micê e um
Final lindo lhes mostrar.

“E no lugar do sepulcro
Uma mangueira plantou,
Onde o hábito de Sancha
Até morrer aspirou.

Visões que ela lh´ofr´ecia
Não são d´humano juízo;
A sombra que ela lhe dava
Era a sombra do pr’aíso.

Inda em torno da mangueira
Se vê lindo jardim;
E as mangas do Padre Aires
São as mangas de jasmim.”

Assim foi o que
Esse Vado do Véi Pêdo
Me contou sem querer
Demonstrar nenhum medo,
Disse que teve no sepulcro
E lá enfiou até o dedo.

Mais uma lenda
Aqui então eu lhes contei
Pra além de alegrar,
Fazer que vois miceis
Venha saber que
Esse nosso povo tem vez.

Câmara Cascudo
Esse bom brasileiro
Deixou tudo bem escrito
Conhecendo por inteiro
As histórias do meu povo
Escreveu bem certeiro.

Por isso se o bicho
Da curiosidade morder
Procure os livros do mestre,
Correndo comece a ler.
E o valor do nosso Brasil
Você vai bem aprender.

Aqui findo mais uma
Gostosa e boa aventura
Sem nem esquecer
Dessa nossa vida dura
E de como é bom
Cultivar nossa cultura.


"VIVA A ARTE DO MEU POVO!"

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