sábado, 6 de março de 2010

Rolando Boldrin O Senhor Brasil



Algumas vezes aqui, falei da falta de divulgação da nossa arte, da nossa brasilidade. Mas isso não quer dizer que nada tenha sido feito, existe muita gente por esse Brasil a fora que defende a nossa cultura com garras e dentes. Na TV posso destacar o esforço de Rolando Boldrin, que a muito tempo vem fazendo esse trabalho com maestria.
Por isso cabe uma homenagem do “ A Arte Do Meu Povo!” a esse grande brasileiro.

O site wikpedia o descreve assim...

"Rolando Boldrin (São Joaquim da Barra, 22 de outubro de 1936) é um compositor, cantor, ator e apresentador de televisão brasileiro.Marcou época na televisão brasileira com a brilhante interpretação do inesquecível personagem barão Leôncio na novela Os deuses estão mortos.Atualmente apresenta o programa Sr. Brasil, exibido pelo Rede Cultura de São Paulo na terça-feira às 22h e aos domingos após o programa Viola minha viola, às 10h. Em 2010, foi tema do desfile da escola de samba Pérola Negra no carnaval de São Paulo, com o enredo "Vamos tirar o Brasil da gaveta". Seu trabalho em ressaltar a cultura brasileira foi um dos pontos centrais do desfile."

Sem sombra de dúvidas dentre as habilidades de Boldrin está a de contar causo e aqui vai um...

O Compadre, o Lobisomen e o Porco no Rolete

A escuridão da noite aos poucos era engolida pelos primeiros raios de sol que surgia por detrás da velha cerca de arame. Dentro do velho casebre a família preparava-se para mais um dia na labuta.

Foi quando uma barulhança danada tomou conta do terreiros.

O galo destampou a cantar, as galinhas cacarejavam sem modéstia, cachorros, cavalos, patos e até o velho gardenal, um gato meio maluco que vivia ali pelo terreiro começou a miar.

Fui abrindo a porta lentamente, pois era início da quaresma, e o comentário de que um lobisomem havia rondado o descampado me assustava.

O brilho do sol já raiava, e ofuscava minha visão. Mas aos pouco pude ver chegando bem de vargarinho o causador de tanta barulhança.

Era o compadre Justino, que morava lá pras bandas de Toledo.

A surpresa foi grande, pois o velho homem há muito tempo não nos visitava.

___ Vai apiando compadre, vai entrando que a casa é sua.

___ Diiiia Compadre Zé! Desculpa pelo horário, é que sai bem cedinho de Todelo, passei a noite no galope e só pude chegar agora.

___ Larga de modisse compadre, vai apiando que a mulher já está preparando o café.

Compadre Justino é um grande amigo. Fomos praticamente criados juntos. Mas o destino nos separou a quase dez anos.

___ Impurra o gardenal pro canto, senta ai compadre, fala logo da família, da vida, das andanças?

___ Pois é compadre! Eu estava meio acabrunhado. O médico disse que acabrunhado agora chama, estresse. E me pediu pra tirar uns dias de folga. Então pensei em vir pra cá passar uns dias. Espero não estar incomodando?

___ Não se aveche, velho amigo. A minha casa será sempre a sua. Vou te levar pra carpiná um café com marmelada que quero ver se esse tal de estresse te larga ou não.

O riso do compadre surgiu derrepente, os causos e as histórias sérias foram surgindo como no passado.

Falamos de família, dos novos costumes do homem moderno. Até que a Zuza, carinhosamente nos alertou para o horário.

Já era hora de ir para a labuta.

Mas confesso, que saí dali com uma curiosidade que me beliscava por dentro.

Entre todos os causos contados pelo Justino, o que mais me deixou intrigado foi a do porco no rolete.

Disse, ele, que lá pras bandas de Toledo, nesta época acontece uma tal de festa do porco no rolete, e que toda a região se movimenta ao redor deste costume.

A minha cabeça ficou tinindo. Quando ele começou a falar, a boca foi logo enchendo d´agua. As lombrigas se assanharam todas.

E decidi que queria comer o tal de porco no rolete.

Naquele dia não trabalhei direito até ouvi a Zuza dizer que eu estava queimem mulher prenha.

Mas podiam até zombar de mim, eu havia decidido a experimentar o danado do porco.

Saí mais cedo da lavoura, arriei o Biruta, meu cavalo e com a companhia do compadre saímos pelas fazendas da região a procura de um bom capado para enrroletá-lo.

Na primeira tentativa não deu certo, os capadinhos estavão muito magrinhos.

Na segunda fazenda, os porcos já estavam vendidos pra uma fábrica de bacon.

Na terceira fazenda, o fazendeiro havia se separado a esposa e os porcos entraram no inventário, e não poderiam ser comercializados até uma posição do Juiz.

Há! A aflição tomou conta de mim. O desespero e a vontade de comer o tal de porco no rolete só me judiava.

Maldita hora que o Justino foi me contar esta novidade. O pior era que ele me acompahava na busca do suíno, e o tempo todo tentava me convencer de que eu não devia ficar tão entusiasmada com o assado.

Mas pra mim já era uma questão de honra comer o tal do porco.

Como eu havia dito, estávamos em plena quaresma, os rumores de que um lobisomem rondava a região aumentava a cada dia.

Eu que já lutei com vários lobisomens em minha vida, não me preocupava muito.

Os dias foram passando, e nada de encontrar um porco no ponto de ser assado.

A quaresma estava chegando ao fim, e as novenas se intensificavam na região.Naquela noite, a reza seria na casa do Nhô Quincas que morava em uma fazenda a muitas léguas dali.

Arrumamos as trouxas, arriei o potro e partimos para o louvor.

O compadre Justino preferiu não ir, disse ele que estava com uma dor de barriga danada.

Tudo bem! Então vamos eu e Zuza.

A reza foi das melhores. Teve até encenação da morte de Jesus Cristo. Lá pras quatro da manhã eu e Zuza resolvemos voltar para casa.

Cruzamos a mata fechada, os cafezais, a lavoura de algodão e quando íamos entrar na ponte do rio Arara que separa o algodaá do descampado, lá estava ele.

Um porção de fazer inveja a qualquer suíno de televisão. O bicho era bonito, grande, rosado, mas parecia um monstro.

___ È o tal do lobisomem homem! Gritou a Zuza.

___ Que lobisomem, que nada mulher! È o danado do porco que eu venho a dias tentando encontrar.

___ Pelo amor de Deus deixa o bicho quieto.

___ Quero ver eu deixar! Lobisomem ou não, ele vai para no rolete.

Esporei o cavalo e parti para cima do porco. De início o bicho resolveu encarar, mas quando ele viu que eu estava decidido a dominá-lo, o bicho resolveu fugir.

Pulei do cavalo como chicote em punho, estalei o rabo de tatu e parti para cima do cachaço.

Parpa daqui, parpa dali, sobe serra, desce rebalo, mas nada de pegar o danado.

Corremos de um lado para o outro quase todo o resto da manhã.

Confesso que eu já estava começando a ficar cansado. Mas aminha vontade era tanta que poderia durar o resto da quaresma, poderia até o porco ser o tal do lobisomem, que eu ia assá-lo, há eu ia.

A essa altura nós dois, eu e o porco entramos no descampado que desemboca na minha pequena casinha.

O danado do porco não sabia mais oque fazer, se ele falasse, com certeza me pediria pelo amor de Deus para deixá-lo em paz.

Correu para trás do galinheiro, passou por cima dos fardos de algodão e mirou a direção da minha casa.

Foi quando observei que a porta estava aberta. Então gritei:

___ Socorre compadre, prepara o tacho com a água fervendo que o porco ta chegando.

O porco não tendo para onde correr, entrou em minha casinha.

___ Aprochegue compadre, fecha a porta que desta vez ele não escapa.

Mas interessante, o compadre não apareceu.

O porco correu e se escondeu detrás do fogão a lenha na cozinha.

Então eu havia encurralado o bico.

Peguei espingarda, fui pé-por-pé, até a entrada do aberto onde o porco estava escondido.

Engatilhei a magrela, firmei o dedo e o pensamento, quando comecei a arrastar o gatilho gritos de pelo amor de Deus surgiram de trás do fogão:

___ Calma homem! Pelo amor de Deus não atira. Sou eu seu compadre.

E não é que era mesmo. O homem estava pelado, todo arranhado, cheio de chicotadas. O compadre era o lobisomem. Por isso que ele defendia tanto os porquinhos.

E mais uma vez eu fiquei sem comer o tal de porco no rolete. “
Fonte : http://www.rolandoboldrin.com.br/causos_aberto.asp?id=195&id_cat=1

“E VIVA A ARTE DO MEU POVO”

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