sábado, 28 de abril de 2012

A Rola Traquina Do Padre Bento

Este é o meu primeiro trabalho em decassílabo. Sei que preciso me aperfeiçoar muito, mas já é um começo.Espero que gostem, comentem e critiquem. " E VIVA A ARTE DO MEU POVO!"


A Rola Traquina Do Padre Bento
Nivaldo CruzCredo – 26.04.2012
 
No meio do sertão da Bahia
Tinha uma pequena cidade
Sem muita diversidade
Das outras que  lá existia,
Era mais uma sesmaria
Dentro do chão nordestino,
Que cumpria o seu destino
De viver com a sequidão
Que crava naquele chão
A lei dum clima assassino.

No meio de tanta tristeza
Fome, sede, doença e morte,
Religião era esperança e sorte
Para o cristão que tinha certeza
Que ficaria tudo uma beleza,
Se se cumprisse as penitências
E se pagasse as idulgências
Que o vigário sempre falava,
Se ouvissem o que ele pregava
E o sermão das insistências.

Tudo que era acontecido
Alí naquele dito local,
Fazia parte do mal
Pelo pecado trazido,
Por isso o povo era acometido
De tanta falta de sorte,
Da presença constante da morte,
Da tristeza sempre presente,
Da seca que leva os parente
Pelos caminho sem norte.

É nessa dura realidade
Que vivia o padre Bento,
Homem puro e de talento
Pra viver da caridade,
Ele era de verdade
Quasemente um São Francisco,
Não corria nenhum risco
De cair no tal pecado,
Pois era  bem vacinado
E de bondade era um  arisco.

Nessa bondade exemplar
O padre era admirado,
Por todos bem respeitado
Sendo autoridade no lugar,
Bastava alguma coisa falar
Que todo mundo o ouvia,
E em silêncio cumpria
O que ele havia pedido,
Sem muxoxo ou gemido
Era assim que acontecia.

O padre Bento gostava
De caminhar pela região,
De conhecer cada cidadão
Que naquele lugar morava,
Por cada canto que andava
A mata, a caatinga e a cidade,
Conheciam sua caridade
E o seu jeito  bem protetor,
Das coisas que o bom  criador
Colocou com a humanidade.

Planta, bicho e gente
Para ele era tudo igual,
Não mereciam o mal
Nem se  tratar diferente,
Pois o padre era crente
Que tudo é parte de Deus,
Que  são todos filhos seus
Não merece menosprezo,
Nem tão pouco o desprezo
Daqueles que não são ateus.

Em uma de suas caminhadas
O nosso bom vigário,
Vinha rezando o rosário
Quando ouviu umas piadas,
Um tanto quanto engasgadas
Vindas de uma moita de mato,
Foi lá constatar o fato
E saber o que acontecia,
Viu uma cena que estremecia
E o deixou estupefato.

Uma rolinha fogo pagô
Por uma cascavél era devorada,
Na frente da sua ninhada,
O padre uma vara pegou
E a cobra escurraçou,
Perto do ninho ele viu,
E então foi que sentiu
Uma grande comoção,
Um aperto no coração
Quando um filhote surgiu.

Foi tudo o que sobrou
Daquela familia de passarinho,
Não tinha mais nada no ninho
Com lágrimas nos olhos olhou,
E outro jeito não achou
A não ser pegar pra criar,
E não deixar maltratar
Aquela criatura inocente,
Aquele ser tão carente
Com ele iria morar.

Assim com muito cuidado
Padre Bento se abaixou,
Com as duas mãos pegou
Aquele ser abeçoado,
Que teve a sorte de ser achado
Por uma alma bondosa,
E por demais caridosa
Um defensor da vida,
Naquela terra sofrida
Árida, seca e penosa.

A criaturinha bem aconchegada
Entre as mãos do padre no peito,
Acalmo-se e fez dali o seu leito
Ficou  bem despreocupada,
Na inocência a pobre coitada
Nem imaginava o que se passou,
E o perigo que enfrentou
Que até podia está morta,
Mas isso não mais importa
Porque  o santo  vigário lhe adotou.


Padre Bento mudou seu roteiro
Resolveu para casa voltar,
Para melhor poder cuidar
Do passarinho aventureiro,
Que carecia de cuidado inteiro
Por ser tão frágil e pequeno,
Num tinha direito o empeno
A pobre da avizinha,
Que agora por certo tinha
Um lar tranquilo e sereno.

No caminho ia pensando
Como da criatura cuidar,
O que fazer para alimentar
Tudo isso   ia matutando,
Foi assim mesmo que quando
Uma ideia lhe acometeu,
Um sorriso maroto ele deu
E olhou para a criaturinha,
Seu nome seria Santinha
Disse com o jeito seu.

Chegou na casa paroquial
Tratou logo de arrumar,
Para santinha um bom lugar
Que não podia ser o quintal,
Onde  seria comida de outro animal
Resolveu então colocá-la na camarinha,
Perto de um  grande baú que tinha
E guardava com muito cuidado,
Pois lhe tinha sido dado
Por sua santa mãezinha.

Ajeitou um ninho aconchegante
Com muito conforto e carinho,
Para dar para aquele serzinho
Tudo de mais importante,
Seu amor ao ser chegante
Tava escrito em sua cara
Com uma alegria bem rara
Que tomava o seu semblante,
Era uma alegria  desconstante
Dessas que a gente repara.

O tempo foi indo, passando
E o amor do padre crescendo,
A avizinha também respondendo
Os dois iam se apegando,
O povo todo tava reparando
Naquela amizade bonita,
Que paracia uma fita
Essas coisa de cinema,
Que é quando vida tema
Em ser coisa esquesita.

A primeira preocupação
De como a coisinha alimentar,
O vigário achou como ajustar
E isso virou até atração,
Pro povo da  região
Que vinha de longe pra ver,
Padre Bento dar de comer
A sua rolinha fogo pagô,
Vinha pobre e vinha doutor
Só pra forma poder conhecer.

O padre colocava o passarinho
Em cima de uma mesa,
Depois com sua esperteza
Ia até um pequeno cantinho,
E atrás das garrafas de vinho
Pegava a ração que fabricava,
Botava na boca e mastigava
Até virar uma papa, um mingal
Botava no bico do animal
E esse se deliciava.

O povo ia ao delírio
Coma quele tal espetáculo,
E não viam nenhum  obstáculo
Era até um bom colírio,
No cotidiano de martírio
Daquela gente sofrida,
Ver tanta amizade reunida
Nos dois seres abençoados,
Que foram bem coroados
Com o que há de melhor na vida.

Santinha tava crescendo
Sob os cuidados do vigário,
Que não economizava erário
Pra lhe ver desenvolvendo,
De tudo ia aprendendo
A rolinha era muito da inteligente,
Chamava muito atenção da gente
Só faltava mesmo falar,
E ir rezar missa lá no altar
Pra esse montão de crente.

Com tamanha esperteza
Santinha  fez até apresentação,
Foi o Espirito Santo na grande Paixão
Quem viu diz que foi uma beleza,
E até deu muita certeza
Que coisa igual nunca existiu,
E por aquelas bandas nunca se viu
O passarinho era um danado de sabido,
Tudo ele tinha aprendido
Do que o padre lhe serviu.

Onde padre Bento andava
Santinha também lá ia,
O povo admirava então quando via
 A forma como os dois ajustava,
Pois se um tava quieto o outro parava
Era uma verdadeira combinação,
Assim como a farinha e o feijão
A noite com a  dama lua,
As casas  com a sua rua
E todo o tipo de união.

Era a tal rolinha do vigário
Falavam os maldosos em gozação,
Fazendo anedota da situação
Já as beatas faziam o contrário,
E até rezavam o rosário
Pela a saúde da sabida Santinha,
Pois era santa aquela avezinha,
De todo jeito ali se falava
Do passarinho que o padre cuidava
E que vivia na sua camarinha.

No meio daquilo tudo
Tinha gente que não gostava,
E até mesmo zangava
Se fazendo de surdo mudo,
Dizendo que era um absurdo
Que o povo tava era cego,
Que aquilo era mais prego
E não tinha nada de cruz
Pois era do diabo num era de Jesus
Aquele bicho de légo.

Quem luta pela vida
Encontra muita oposição,
Com o padre não foi diferente
Aquela opção escolhida,
Também era a mais sofrida
Pois  era muito do perseguido,
Nunca tinah sido agredido
Mas ameaça não faltava,
Diria que até sobrava
Na vida do sacerdote querido.

Alheia e por fora de tudo isso
Santinha ia era bem crescendo,
A cada dia mais desenvolvendo
Dando muito trabalho e serviço,
Fazendo um consumiço
Nos cabelos do seu dono,
Que tava perdendo o sono
Com as suas estrepulias,
Somadas as tais rebeldias
Que chegavam com o mês nono.

A rolinha estava danada
Mexia com toda gente,
Deixava o padre de cabeça quente
Dando em menino bicada,
Tava era da muito abusada
A Santinha do bom pastor,
Que rezava com muito fervor
Para que ela sossegasse,
E que por Deus  acalmasse
Todo aquele grande furor.
A Santinha se divertia
Com toda aquela situação,
Corria com sacristão
De dentro da sacristia,
Depois sorrindo parecia
Com a carreira do coitado,
Que só parava do outro lado
Com a lingua no pescoço,
Era o maior alvoroço
Com o que se tinha passado.

Certo dia um coronel mandatário
Metido nessa tal de eleição,
Resolveu dar no padre uma lição
E dentro do confessionário,
Prenderam o pobre vigário
Uns jagunços de aluguel,
Vindos a mando do coronel
Era pra dar um corretivo,
De não deixar o padre vivo
E jogar seu corpo ao léu.

Mas  Santinha tudo percebendo
Saiu foi bem desesperada,
Fazendo a maior prezepada
Pela praça e ruas correndo,
O povo que tava vendo
Ficou  muito do intrigado,
A rolinha naquele estado
E o padre não estava atrás?
Tava acontecendo algo de mais
Aquilo tava era errado.

Uma multidão na igreja adentrou
Os jagunços fugiram  de medo,
No padre não  tocaram o dedo
Assim Santinha seu amigo salvou,
Pagando a dívida que ele não lhe cobrou
O tal do coronel pegou foi maleita,
E morreu com essa desfeita
Assim a heroína traquina rolinha,
Voltou a viver aprontando soltinha
Na sua boa liberdade perfeita.