quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Padre Antonio Vieira E os Modos do Verbo Furtar

 
Padre Antonio Vieira E os Modos do Verbo Furtar
Nivaldo CruzCredo
28.11.2015



1
O lendário e histórico
Padre Antonio Vieira
Dono de uma oratória
Invejável e verdadeira
O maior orador que pisou
Nesta terra brasileira.
 
2
Em um meia cinco cinco(1655)
Fez um discurso belo
Para Rei João IV
E sua corte em paralelo
Usando o seu dom
 Afiado como cutelo.
 
3
Foi na bonita Lisboa,
A famosa capital
Da nossa metrópole,
Importante Portugal,
Mas o assunto foi um
Brasil que parece  atual.
 
4
Ele apresentou ali, todos
Os modos do verbo furtar
No sermão do Bom ladrão
Para assim  bem ilustrar
O que acontecia aqui
E para todos vir mostrar.
 
5
Ele bem disse quase assim
“- Tanto que aqui chegam,
Começam a furtar pelo
Modo indicativo, (vejam),
Porque a primeira informação
Que dos antigos  desejam.
 
6
E a estes chegam pedir
Que lhes possam apontar,
Os caminhos por onde
Eles possam furtar,
 Querendo que indiquem
Como tudo abarcar.

7
- Furtam pelo  imperativo,
Porque como têm o mero
 Poder, todo ele aplicam
Despoticamente com esmero
Para as execuções da rapina,
Parecendo o próprio Nero.
 
8
 Furtam pelo mandativo,
Aceitam quanto lhes mandam;
Para que mandem todos,
Os que por ali andam,
Assim , não são aceitos
Os que não mandam e desandam.
 
9
 Furtam pelo optativo,
Desejando quanto parece bem,
E gabando as coisas desejadas,
Não se importando quem
Sejam os donos delas,
As fazem suas, também.
 
10
- Furtam pelo conjuntivo,
Porque ajuntam o seu cabedal
Com os que manejam muito,
Achando coisa natural,
Basta só que ajuntem ,
Sendo meeiros na ganância tal.
 
11
Continuam furtando
- Furtam pelo  potencial,
Porque sem  ter pretexto,
Nem cerimônia coisa e tal,
Usam de sua potência,
Em todo ato imoral.
 
12
- Furtam pelo  permissivo,
Porque permitem que furtem,
Todos os outros que queiram
Que também  isso curtem,
Estes compram permissões,
Das quais aqueles se nutrem.
 
13
- Furtam pelo  infinitivo,
Porque não tem fim o furtar
Com o fim de um governo,
Eles buscam outro lugar
E sempre  deixam raízes,
Para os furtos continuar.

14
- Estes  modos conjugam
Por todas as tais pessoas;
Porque a primeira  do verbo
É a sua mesmo e não é  atoa
As segundas os seus auxiliares
Que também ficam numa boa.
 
15
Já as terceiras, quantas para
Isso têm industria e ciência,
Assim todos e todas roubam,
Sem nem se quer prudência,
Se achado nesse direito,
Fazendo disso a providência.
 
16
Através de  todos os tempos,
Eles furtam juntamente,
Já que no real o seu tempo,
Sempre é mesmo o  presente,
Colhem quanto pode  dá
Seu mandato inconsequente.
 
17
Para incluírem no presente,
O pretérito e o tal  futuro
Do pretérito desenterram,
Crime ficando maduro,
Qual vendem  perdões e
Dívidas esquecidas, a juro.
 
18
Que se pagam inteiramente,
Do futuro  eles empenham
As rendas  que antecipam
Os contratos que convenham
Com que tudo o caído e não
Caído as mãos lhe venham.
 
19
- Finalmente  nos mesmos tempos
 Não escapam os imperfeitos,
Perfeitos, plusquam perfeitos,
E quaisquer outros, nos direitos
Furtam, furtaram, furtavam,
Furtariam dos mesmos jeitos.
 
20
Em todos os seus tempos,
Haveriam mesmo de furtar
Porque não escolhem mesmo
Nem tempo certo para estar,
Mais se mais houvesse
Iam no seu nome colocar.

21
Em suma que o resumo
De toda rapante conjugação
Vem desta ser o supino
Do mesmo verbo em ação,
A furtar mesmo para furtar.
Sem medo e com noção.
 
22
Quando eles têm conjugado
Assim toda  voz ativa,
E o miserável povo
Suportado a passiva,
Eles, como se tivera feito
Grandes serviços, dão viva.

23
Com  essa roubalheira
Tornam a seus Estados
Muito mais pobres
De despojos carregados,
Fica mesmo consumido,
Ficando  assim roubado.

24
Cada mandato destes,
Em própria significação
Vem a ser uma licença
Geral in scriptis, então
Ou um passaporte
Para furtar a nação.”

25
Viu-se os modos do verbo furtar,
Modo imperativo, modo mandativo,
Modo optativo, modo potencial,
Modo conjuntivo, modo permissivo
Seus  tempos e suas pessoas
E até o modo infinitivo.

26
Foi o Padre Antonio Vieira
Que assim mesmo falou
Lá no século dezessete
No sermão que comandou
Todos os modos do verbo
Furtar no Brasil apresentou.

27
Roubar dinheiro público
Aqui não é novidade
Seja império ou república
Sempre roubaram de verdade
E o povo sempre pagou
Com  sua ingenuidade.

28
Sempre foi massa de manobra
Para os ratos do poder,
O que verdadeiramente
Precisa mesmo saber,
É  sua história real,
Para poder se defender.
 
29
Então não caia na tal
Armadilha do esperto,
Que quer roubar também,
Haja do jeito certo
Procure, busque, pesquise
Em dados de longe e de perto.
 
30
Assim forme você mesmo
Sua ideia e  opinião,
Não caia nas asneiras
Que fala a televisão,
Os sites,  rádios, jornais
Os meios de comunicação.
 
31
Pois todos  eles defendem
O grupo a qual pertencem
E não estão com o povo,
Como querem que pensem
Por isso não se iluda,
Senão são eles que vencem.

32
O sermão do bom ladrão
É na internet que está,
Peço que procure e busque
Tenho certeza  vai encontrar
E se lê-lo todo e com calma
Um bom texto vai achar.
















Inspirado no sermão do Bom ladrão do Padre Antônio Vieira que nasceu em Lisboa, em 1608, e morreu na Bahia, em 1697.
Com sete anos de idade, veio para o Brasil e entrou para a Companhia de Jesus.
Por defender posições favoráveis aos índios e aos judeus, foi condenado à prisão pela Inquisição, onde ficou por dois anos.
O Sermão do Bom Ladrão, foi escrito em 1655, pelo Padre Antônio Vieira.
Ele proferiu este sermão na Igreja da Misericórdia de Lisboa (Conceição Velha), perante D. João IV e sua corte. Lá também estavam os maiores dignitários do reino, juízes, ministros e conselheiros.



Fontes: http://www.passeiweb.com/estudos/livros/sermao_do_bom_ladrao e http://www.soliteratura.com.br/barroco/barroco06.php






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